Paulo Sant’Ana: “Meus secretos amigos” / “My secret friends”
13 November 2010 1 Comment
[ PT – Português ]
Meus secretos amigos
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles… Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles!
Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure.
Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos.
“A gente não faz amigos, reconhece-os.” (Garth Henrichs)
Paulo Sant’Ana, “Zero Hora”, 15/04/1994
FONTE: [aqui] (eu tomei a liberdade de incluir o nome do autor da frase citada no final para evitar a confusão que descrevo na nota seguinte).
NOTA: Esta crónica, que é de Paulo Sant’Ana e foi publicada no jornal “Zero Hora” de 15/04/1994, aparece muitas vezes na internet associada a outros autores, como Vinícius de Moraes ou Garth Henrichs (autor da frase citada no final). O texto “Textos apócrifos na internet – Vinícius?” de Betty Vidigal, no número 102 da Revista “O Escritor” (da União Brasileira de Escritores), Março de 2003, procura esclarecer esta questão. O próprio Paulo Sant’Ana também procura esclarecer esta questão no seu blogue, com o post “Plágio póstumo”. O meu interesse por uma obra está na própria obra e não no autor (e este texto vale por si). Mas neste caso não posso deixar de fazer este reparo, pois também eu fui induzido em erro e pensava que este texto era de Vinícius de Moraes (parece que as obras de Vinícius de Moraes estão todas reunidas no site http://www.viniciusdemoraes.com.br/, no qual eu não consegui encontrar este texto). Aqui está um belo exemplo dos riscos da internet – é preciso ter atenção às referências e confirmá-las.
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Sorry I haven’t done the translation yet… But you can use Google Translate meanwhile!:)